segunda-feira, 1 de abril de 2013

COMPLEXO TEMÁTICO 2013

ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL GUIDO A LERMEN
CICLOS DE FORMAÇÃO – “Amar é deixar de comparar”

COMPLEXO TEMÁTICO 2013
GENTE QUE É GENTE
Na reunião noturna do dia 25 de fevereiro, a “equipa” da Escola Guido Lermen reuniu-se para definir seu Complexo Temático 2013. Iniciado já no final de 2012, tendo como base o Complexo anterior, foi nomeado de GENTE QUE É GENTE, pois reconheceu-se a necessidade de continuarmos dentro do mesmo eixo temático
Assim, passamos a nos perguntar: por onde começar o trabalho? o que fazer de concreto? Que conteúdos precisamos desenvolver como meios para que as competências e os princípios já elencados tornem-se mais presentes, mais palpáveis?
Logo é necessário pensar sobre o que significa a expressão: GENTE MAIS GENTE. Por que precisamos GENTE MAIS GENTE? Subtende-se que algo (ou vários fatores) estão nos desumanizando, dificultando nossa tornar-se gente plena, de acordo com os 4 pilares também expressos em nosso Complexo: Gente que é, que convive, conhece e faz. Pensamos que para “acertarmos o passo” talvez uma reflexão sobre a realidade atual pode ajudar.
Sabemos que a sociedade em crise e talvez analisando-a possamos vislumbrar novas alternativas, se não para a solução, pelo menos para dar um passo a frente nesta direção. E se a sociedade for grande demais para nós, que possamos, pelo menos, usar a crise como uma oportunidade para a escola, para nossas famílias e para nossa vida.
A crise na sociedade
A perda das certezas, da fé no progresso, da possibilidade de desenvolvimento ilimitado do ser humano, são elementos que contribuem notavelmente para o sentimento de crise vivido pela sociedade. Para Edgar Morin (1993) estamos vivendo uma transição paradigmática, uma crise de futuro. Ele afirma que estamos vivendo um violento estado em que forças de vida e de morte se embatem, em “estado de agonia”. Sentimos que talvez os danos do que já foi feito talvez sejam irreparáveis, que talvez não haja mais tempo, pois quando olhamos o futuro não vemos mais maravilhamento e certezas, vemos nevoeiro e fumaça. Estamos como um barco sobre o mar, sem poder ver o que será o amanhã. Isto é a perda do futuro. O futuro está doente. Isso repercute sobre o presente. Em entrevista recente ele diz:
O ser humano é potencialmente capaz do pior e do melhor. Há nele um monstro possível, um sádico, um bruto, um assassino e também um herói, um santo, alguém que necessita dedicar-se aos outros. Todo mundo tem maior ou menor pulsão altruísta. O que é uma boa civilização? A que permita o pleno emprego das melhores pulsões humanas, da solidariedade; a má sociedade inibe essas pulsões em favor da agressividade e do egocentrismo. Nada há de louco em esperar um mundo no qual seríamos menos inumanos, menos cruéis, menos atrozes e onde existiria menos pobreza ou talvez nenhuma, pois temos condições técnicas para suprimir a fome e não o fazemos por causa de dogmas econômicos. Outro mundo é possível.
Evoluímos tanto enquanto civilização, fomos capazes de criar um mundo modernizado, com conforto, bens de consumo, avanços em todas as áreas possíveis. No entanto, apesar de cada vez mais pessoas acessarem estes avanços, ainda temos uma grande parcela da população à margem, ou como diz Bauman (2005) são os refugos humanos, atingidos pelo desemprego, pela falta de condições mínimas de habitação, saúde e educação: “são efeitos colaterais do progresso econômico”.
Vivemos sempre com medo da violência, gerada pela pobreza, pela falta de emprego, pelo uso cada vez mais desenfreado de álcool e drogas. Temos medo do terrorismo, de uma possível guerra, de uma bomba. Sentimos cada vez mais perto a falta de emprego, os salários cada vez mais baixos e os altos escalões cada vez mais ricos, sempre impunes, tudo às custas do bem estar social, último objetivo de quem está no poder. Somos rondados constantemente pela possibilidade de alguma doença nova, da falta de alimentos, da falta de água, da falta de energia, da degradação cada vez mais intensa do meio ambiente, dos desastres naturais. A democracia não é tão democrática e o medo de tirarem nossa voz, de não podermos mais nos expressar também está presente, mesmo que muitos já tenham perdido esta capacidade. Sempre há a possibilidade de sermos mortos por uma bala perdida, por uma briga de torcidas, por algum motorista exaltado ou por uma brincadeira inocente com um sinalizador. Como disse Viviane Mosé, a vida não é mais um valor. Este é nosso maior conteúdo, mostrar o valor da vida aos nossos alunos, e para isso, por que não analisar o que nos está tirando este valor?
A crise de futuro, aliada a todos estes problemas tão (des)humanos, contribuem para que a gente não seja gente em plenitude. Gente mais gente. Precisamos de gente mais gente, e para isso precisamos olhar para todos estas dimensões com criticidade e com esperança. É preciso falar sobre a violência, sobre a crise ambiental, sobre a desvalorização da vida! Estes são nossos conteúdos conceituais. Analisar historicamente, geograficamente, cientificamente! Tudo isso tem nos tirado o direito de sermos seres humanos plenos, e por isso é preciso conhecer, para questionar e para transformar!
Se hoje o fator dominante é o ter, em detrimento do ser, se hoje o que vale é a propriedade, a mercadoria, o dinheiro, o status, o poder, em detrimento dos princípios e valores, se ter um carro do ano, roupa de grife, ou como nos disse também Viviane Mosé, a geladeira colorida é mais importante do que ser uma pessoa que trabalha com o que gosta, que tem momentos de lazer e em família, então estamos realmente em crise, porque ser gente é muito mais do que viver para ter.
Estamos indo pelo caminho certo, mesmo que a passos lentos. Mosé diz que “a fragmentação do ensino formou pessoas cada vez mais segmentadas, incapazes de responder às grandes questões, e que hoje vivem em um mundo que as obriga a dar conta de temas cada vez mais complexos, tornando-se urgente retomar a difícil complexidade que é viver, pensar, criar, conhecer. Todas as coisas se relacionam, não há nada realmente isolado, cada gesto produz desdobramentos incalculáveis; um saber, uma escola, uma pessoa não existe sem um contexto: talvez este seja o aprendizado social, a maturidade política que precisamos, para impedir que as coisas, de uma vez por todas, implodam”.
O pensamento complexo, proposto por Morin, que liga os conhecimentos separados é o que buscamos e o que tentamos fazer em nossos projetos. Sabemos que o conhecimento só é pertinente quando situado no seu contexto. “A complexidade exige um novo e difícil aprendizado e a reforma do pensamento, a qual demanda a reforma da educação. Seria preciso começar por uma reforma de ensino que partisse das questões fundamentais – quem somos?, de onde viemos?, para onde vamos?”
Se como escola sabemos quem somos, de onde viemos e para onde vamos, somos mais capazes de ajudar os alunos, AS GENTES com quem trabalhamos todos os dias, a saberem mais sobre quem são, de onde vieram e para onde vão, capazes de construir um mundo mais humano, de GENTE MAIS GENTE, onde o maior valor seja A VIDA!

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. REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1994.
FREIRE, Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 17 ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, Paulo, Pedagogia do oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1987.
FULLAN, Michael & HARGREAVES, Andy. A escola como organização aprendente: buscando uma educação de qualidade. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 4ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001.
MORIN, Edgar. Repensar a reforma – reformar o pensamento: A cabeça bem feita. Porto Alegre: Instituto Piaget, 1999.
MORIN, Edgar. Para sair do século XX. Revista do Geempa. P.25-33, 1993.
PÉREZ GÓMES, A. I. A cultura escolar na sociedade neoliberal. Porto Alegre: ARTMED Editora, 2001.

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