ESCOLA
MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL GUIDO A LERMEN
CICLOS
DE FORMAÇÃO – “Amar é deixar de comparar”
COMPLEXO
TEMÁTICO 2013
GENTE
QUE É GENTE
Na reunião noturna
do dia 25 de fevereiro, a “equipa” da Escola Guido Lermen
reuniu-se para definir seu Complexo Temático 2013. Iniciado já no
final de 2012, tendo como base o Complexo anterior, foi nomeado de
GENTE QUE É GENTE, pois reconheceu-se a necessidade de continuarmos
dentro do mesmo eixo temático
Assim, passamos a
nos perguntar: por onde começar o trabalho? o que fazer de concreto?
Que conteúdos precisamos desenvolver como meios para que as
competências e os princípios já elencados tornem-se mais
presentes, mais palpáveis?
Logo
é necessário pensar sobre o que significa a expressão: GENTE MAIS
GENTE. Por que precisamos GENTE MAIS GENTE? Subtende-se que algo (ou
vários fatores) estão nos desumanizando, dificultando nossa
tornar-se gente plena, de acordo com os 4 pilares também expressos
em nosso Complexo: Gente que é, que convive, conhece e faz. Pensamos
que para “acertarmos o passo” talvez uma reflexão sobre a
realidade atual pode ajudar.
Sabemos que a
sociedade em crise e talvez analisando-a possamos vislumbrar novas
alternativas, se não para a solução, pelo menos para dar um passo
a frente nesta direção. E se a sociedade for grande demais para
nós, que possamos, pelo menos, usar a crise como uma oportunidade
para a escola, para nossas famílias e para nossa vida.
A
crise na sociedade
A
perda das certezas, da fé no progresso, da possibilidade de
desenvolvimento ilimitado do ser humano, são elementos que
contribuem notavelmente para o sentimento de crise vivido pela
sociedade. Para Edgar Morin (1993) estamos vivendo uma transição
paradigmática, uma crise de futuro. Ele afirma que estamos vivendo
um violento estado em que forças de vida e de morte se embatem, em
“estado de agonia”. Sentimos que talvez os danos do que já foi
feito talvez sejam irreparáveis, que talvez não haja mais tempo,
pois quando olhamos o futuro não vemos mais maravilhamento e
certezas, vemos nevoeiro e fumaça. Estamos como um barco sobre o
mar, sem poder ver o que será o amanhã. Isto é a perda do futuro.
O futuro está doente. Isso repercute sobre o presente. Em entrevista
recente ele diz:
“O
ser humano é potencialmente capaz do pior e do melhor. Há nele um
monstro possível, um sádico, um bruto, um assassino e também um
herói, um santo, alguém que necessita dedicar-se aos outros. Todo
mundo tem maior ou menor pulsão altruísta. O que é uma boa
civilização? A que permita o pleno emprego das melhores pulsões
humanas, da solidariedade; a má sociedade inibe essas pulsões em
favor da agressividade e do egocentrismo. Nada há de louco em
esperar um mundo no qual seríamos menos inumanos, menos cruéis,
menos atrozes e onde existiria menos pobreza ou talvez nenhuma, pois
temos condições técnicas para suprimir a fome e não o fazemos por
causa de dogmas econômicos. Outro mundo é possível.
Evoluímos
tanto enquanto civilização, fomos capazes de criar um mundo
modernizado, com conforto, bens de consumo, avanços em todas as
áreas possíveis. No entanto, apesar de cada vez mais pessoas
acessarem estes avanços, ainda temos uma grande parcela da população
à margem, ou como diz Bauman (2005) são os refugos humanos,
atingidos pelo desemprego, pela falta de condições mínimas de
habitação, saúde e educação: “são efeitos colaterais do
progresso econômico”.
Vivemos sempre com medo
da violência, gerada pela pobreza, pela falta de emprego, pelo uso
cada vez mais desenfreado de álcool e drogas. Temos medo do
terrorismo, de uma possível guerra, de uma bomba. Sentimos cada vez
mais perto a falta de emprego, os salários cada vez mais baixos e os
altos escalões cada vez mais ricos, sempre impunes, tudo às custas
do bem estar social, último objetivo de quem está no poder. Somos
rondados constantemente pela possibilidade de alguma doença nova, da
falta de alimentos, da falta de água, da falta de energia, da
degradação cada vez mais intensa do meio ambiente, dos desastres
naturais. A democracia não é tão democrática e o medo de tirarem
nossa voz, de não podermos mais nos expressar também está
presente, mesmo que muitos já tenham perdido esta capacidade. Sempre
há a possibilidade de sermos mortos por uma bala perdida, por uma
briga de torcidas, por algum motorista exaltado ou por uma
brincadeira inocente com um sinalizador. Como disse Viviane Mosé, a
vida não é mais um valor. Este é nosso maior conteúdo, mostrar o
valor da vida aos nossos alunos, e para isso, por que não analisar o
que nos está tirando este valor?
A
crise de futuro, aliada a todos estes problemas tão (des)humanos,
contribuem para que a gente não seja gente em plenitude. Gente
mais gente. Precisamos de gente mais gente, e para isso
precisamos olhar para todos estas dimensões com criticidade e com
esperança. É preciso falar sobre a violência, sobre a crise
ambiental, sobre a desvalorização da vida! Estes são nossos
conteúdos conceituais. Analisar historicamente, geograficamente,
cientificamente! Tudo isso tem nos tirado o direito de sermos seres
humanos plenos, e por isso é preciso conhecer, para questionar e
para transformar!
Se hoje o fator
dominante é o ter, em detrimento do ser, se hoje o que vale é a
propriedade, a mercadoria, o dinheiro, o status, o poder, em
detrimento dos princípios e valores, se ter um carro do ano, roupa
de grife, ou como nos disse também Viviane Mosé, a geladeira
colorida é mais importante do que ser uma pessoa que trabalha com o
que gosta, que tem momentos de lazer e em família, então estamos
realmente em crise, porque ser gente é muito mais do que viver para
ter.
Estamos
indo pelo caminho certo, mesmo que a passos lentos. Mosé diz que “a
fragmentação do ensino formou pessoas cada vez mais segmentadas,
incapazes de responder às grandes questões, e que hoje vivem em um
mundo que as obriga a dar conta de temas cada vez mais complexos,
tornando-se urgente retomar a difícil complexidade que é viver,
pensar, criar, conhecer. Todas as coisas se relacionam, não há nada
realmente isolado, cada gesto produz desdobramentos incalculáveis;
um saber, uma escola, uma pessoa não existe sem um contexto: talvez
este seja o aprendizado social, a maturidade política que
precisamos, para impedir que as coisas, de uma vez por todas,
implodam”.
O
pensamento complexo, proposto por Morin, que liga os conhecimentos
separados é o que buscamos e o que tentamos fazer em nossos
projetos. Sabemos que o conhecimento só é pertinente quando situado
no seu contexto. “A
complexidade exige um novo e difícil aprendizado e a reforma do
pensamento, a qual demanda a reforma da educação. Seria preciso
começar por uma reforma de ensino que partisse das questões
fundamentais – quem somos?, de onde viemos?, para onde vamos?”
Se
como escola sabemos quem somos, de onde viemos e para onde vamos,
somos mais capazes de ajudar os alunos, AS GENTES com quem
trabalhamos todos os dias, a saberem mais sobre quem são, de onde
vieram e para onde vão, capazes de construir um mundo mais humano,
de GENTE MAIS GENTE, onde o maior valor seja A VIDA!
6
. REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
ELIAS,
Norbert. A sociedade dos indivíduos.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1994.
FREIRE,
Pedagogia
da autonomia:
Saberes necessários à prática educativa. 17 ed. Rio de Janeiro,
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Michael & HARGREAVES, Andy. A escola como
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MORIN,
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MORIN,
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MORIN,
Edgar. Para sair
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Revista do Geempa. P.25-33, 1993.
PÉREZ
GÓMES, A. I. A cultura escolar na sociedade
neoliberal. Porto Alegre: ARTMED Editora,
2001.
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