segunda-feira, 16 de agosto de 2010

BREVE HISTÓRICO DA ESCOLA

A ESCOLA GUIDO LERMEN

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Guido Arnoldo Lermen é uma escola pública e organizada em Ciclos de Formação Humana, sendo igual a muitas outras e, no entanto, diferente de todas as outras. É nesta escola que um grupo docente passou a não apenas ensinar, mas principalmente a aprender, através de um processo muito bonito, difícil, mas gratificante que foi, e está sendo ainda, a mudança de estrutura seriada para os Ciclos.
Fundada no dia 26 de janeiro de 1991, começou com 70 alunos, moradores do bairro Centenário e arredores, com apenas 4 salas de aula, tendo 5 professores, entre eles o diretor, e uma servente. Foi um início difícil, pois a escola ainda não estava totalmente concluída, faltavam classes e cadeiras, havia poeira, entulhos de construção, mas ao mesmo tempo, parece que a escola já nasceu teimosa, querendo funcionar mesmo na adversidade. Nasceu com o Primeiro Grau Incompleto e em um sistema de ensino seriado, e com o passar dos anos, devido à necessidade local, ampliou-se até a 8ª série.
A equipe diretiva que assumiu após aposentadoria do primeiro diretor, foi quem se interessou pela proposta de Ciclos de Formação, e que lançou a semente da mudança de estrutura. No ano de 1999 todos os professores que decidiram permanecer na escola participaram de um Curso oferecido pela mantenedora à noite, e no ano de 2000, os ciclos foram implantados.
Os Ciclos de Formação foram implantados de forma gradativa, completando-se em 2002 e, desde então, a escola não se denomina mais seriada. Porém, entre o dizer e o ser há um caminho bastante longo a ser percorrido. Por isso, temos consciência de que não somos mais uma escola seriada, mas ao mesmo tempo não somos ainda uma escola de Ciclos de Formação Humana como acreditamos ser possível, como gostaríamos de ser.
Infelizmente, ou talvez felizmente, tornar-se a escola sonhada não é tarefa simples, é uma longa caminhada, da qual faz parte o processo de conquista, de encantamento, primeiramente por parte de nós mesmas, professoras da escola.
Diferente do que conhecemos como Progressão Automática, onde o aluno simplesmente não reprova, a escola organizada em Ciclos de Formação Humana tem em seu bojo todo um embasamento teórico e também pressupostos básicos que visam o atendimento às dificuldades encontradas pelos alunos em seu caminho de aprendizagem, bem como a valorização das potencialidades de cada um.
Desta forma os Ciclos são organizados a partir das fases de vida, sendo o 1º ciclo considerado como a Infância, o 2º ciclo considerado a pré-adolescência, e o 3º ciclo a adolescência. A confrontação com os companheiros de idade aproximada permite à criança constatar que é uma entre outras e que, ao mesmo tempo, é igual e diferente delas.
A organização dos tempos e dos espaços da escola a partir do olhar sobre as fases de vida dos educandos, a partir de seus interesses, de sua realidade, e de seus projetos de vida, levando em conta também a ampliação destes interesses e projetos e a evolução em sua aprendizagem tem o objetivo de melhorar a realidade e educar na integralidade.
No trabalho com os ciclos o professor precisa ser um profissional que trabalhe em equipe, que pense e elabore mediações para os alunos que agora pertencem a toda equipe e não mais a um determinado professor, o que nem sempre é fácil pois a maioria foi preparado para ter a responsabilidade por uma turma ou disciplina e sobre ela ter “autoridade”, e compartilhar nem sempre é fácil. Além disso, ainda é preciso lutar pelo aprofundamento da noção de Ciclos pela comunidade, pois escolas e mantenedoras precisam argumentar por condições adequadas para sua instalação e seu funcionamento.
Enfim, os Ciclos de Formação Humana são mais uma alternativa na busca por uma escola mais humana e justa, num mundo onde muitos estão proibidos de viver com dignidade, onde a não reprovação não é pressuposto, mas conseqüência daquilo que se acredita como linha pedagógica.
A partir do Complexo temático e dos Planos de Estudos, cada ciclo organiza seu próprio projeto de trabalho, que será desenvolvido para as três etapas e cada professor de cada etapa organiza seu plano de aula específico, em consonância com os objetivos que se dispôs a atingir para o ano letivo e para os três anos do ciclo. Ocorrem planejamentos nos momentos de reunião de ciclo, principalmente no primeiro e segundo ciclos, mas infelizmente, o terceiro ciclo não tem, ainda, um momento adequado para que todos os professores sentem juntos para planejar, o que dificultou a implementação dos projetos de ensino/aprendizagem.
Na escola que procuramos ver o aluno de maneira global, não é mais medido por uma nota, mas é visto como um todo, por todo o coletivo de professores do ciclo, de acordo com seu desenvolvimento e aprendizagem mediante os projetos que estão sendo realizados.
Podemos afirmar que tivemos muitos avanços em relação aos relatórios, pois a cada ano, após estudos, discussões, implementações, pudemos ver um relatório mais completo e mais bem escrito, principalmente no relato das atividades desenvolvidas (no primeiro e no segundo ciclos) e também do crescimento das trocas de idéias sobre os alunos. Acreditamos que a parte que relata os processos de aprendizagem do aluno ainda podem melhorar cada vez mais.
Hoje a escola conta com cerca de 320 alunos, podendo ser considerada uma escola de médio porte no município. Cerca de sessenta por cento destes alunos reside no próprio bairro da escola, mas os demais vêm de bairros vizinhos, principalmente Bom Pastor e Igrejinha, que não têm escolas no próprio bairro. As famílias são de classe média baixa, sendo que a maioria dos pais trabalha fora, em casas de família, na construção ou na indústria, muitas vezes no horário noturno.
As famílias são muito presentes na escola. Comparecem em grande número nas festividades e também em palestras e reuniões. Uma das avaliações anuais é entregue na casa dos alunos e nas demais os pais são convidados a virem conversar com os professores sobre o desenvolvimento dos filhos, e lhes é fornecido o relatório descritivo interdisciplinar. Não há uma pesquisa específica sobre qual o entendimento dos pais sobre os Ciclos de Formação, no entanto, nas conversas informais e reuniões, sempre oferecem seu apoio ao trabalho dos professores, pois percebem o crescimento de seus filhos1. Uma das solicitações deles é que a escola implemente um projeto de turno integral, o que já foi estudado e elaborado pelo grupo de professores, mas não autorizado pela Secretaria de Educação.
Apesar de ter uma estrutura física melhor do que há dezoito anos, a escola é feita de uma sucessão de colagens de obras, pois as necessidades que surgiram exigiram ações sem muito planejamento2. Os dois prédios escolares principais são compostos por 9 salas de aula, biblioteca, secretaria, sala dos professores, sala da direção, informática e banheiros. O pátio da escola também foi ampliado com o passar dos anos, e hoje temos uma pequena pracinha para as crianças do 1º ciclo e também, na parte de trás, um pátio para os alunos maiores. Em 2004 concluiu-se a construção de um ginásio de esportes destinado à prática da educação física, tornando-se um dos principais orgulhos dos alunos, e em 2005 concluiu-se a nova cozinha com refeitório.
A escola recebe três verbas trimestrais da Prefeitura Municipal, principalmente para emergências. Também há uma verba do governo federal chamada Dinheiro Direto na Escola, que é utilizada para fazer aquilo que os professores, funcionários, pais e alunos sugerem como prioridade. Fora isso, a escola precisa manter-se com a ajuda da comunidade escolar. Para isso são realizados três eventos: Festa de São João, Rifa da Páscoa e Rifa do Natal.
Apesar das dificuldades financeiras, é preciso lembrar que o que constitui uma escola em seu cerne não é o administrativo, mas sim seu currículo, o seu fazer pedagógico. E em relação a este ponto a escola muito cresceu nestes dezessete anos, mas principalmente após o ano de 2000, quando vislumbrou uma nova perspectiva de trabalho, e passou acreditar a em um novo lema: Amar é deixar de comparar.
Este processo de mudança, que ainda está tão no começo, só é possível porque o coletivo docente desta escola tem uma determinação e uma dedicação que são ímpares.
Desde o ano de 1999, quando a maioria dos professores que hoje ainda está na escola participou de um curso sobre os Ciclos de Formação, a escola nunca mais pode parar de estudar. Nos primeiros anos simplesmente acreditamos que mudar de nome significava ao mesmo tempo mudar de posturas, mas em 2002, quando novamente tivemos a oportunidade de nos reunir com as outras escolas de ciclos, percebemos que, na prática, nossa escola de ciclos era apenas uma teoria.
A partir daí, muitos momentos de debate, de leitura e escrita, de análise da realidade, de busca de respostas... Muitos espaços de reflexão coletiva proporcionaram ao grupo um auto-reconhecimento como professoras da escola, como militantes de uma escola diferente. Perdemos o receio de exigir uma estrutura melhor para trabalhar, passamos a justificar nossas reivindicações por escrito, e felizmente, conseguimos implementar algumas melhorias no trabalho da escola e de sala de aula.
Quanto aos professores, apenas uma professora cursou apenas o magistério e optou por não continuar os estudos, uma está cursando licenciatura e todos os demais são graduados. Há três professoras com Mestrado, uma em Educação, uma em ensino de Ciências e outra em Ensino de Geografia.

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